14.6.05

Era melhor a anestesia do futeboling!!!

De repente o céu abateu-se sobre os portugueses que viviam numa espécie de anestesia futebolística.
Afinal a coisa está má.
É preciso trabalhar pessoal, é preciso produzir, é preciso fazer sacrifícios em nome do país, todos por um, um por todos.
A este apelo patriótico que inclusive teve honras de ser feito pelo próprio Sr. Presidente da República, seguiram-se todo um rol de medidas restritivas e aparentemente igualitárias para todos os portugueses. A factura tem de ser paga por todos, diz o nosso primeiro-ministro.O povo português está habituado a fazer sacrifícios e sempre conseguiu superar as dificuldades, mesmo quando perdeu a independência para Espanha,entre outras fases menos boas da sua longa história.
Os factos repetem-se: após o 25 de Abril de 1974, cerca de 30 anos depois,deparamo-nos com uma classe política medíocre, interesseira, oportunista e delapidadora do património do Estado.Num país pequeno, questionamo-nos porque Portugal não tem por exemplo 100 deputados e tem mais de 200?
Num país de tão parcos recursos, questionamo-nos porque tantas benesses políticas para tantos políticos, desde os vereadores, ao Presidente de Câmara, ao deputado, ao ministro, ao Presidente da República?
Num pais afundado, ouvíamos há dias que o orçamento da Assembleia da República fora reforçado em 10 milhões de euros (!!!) por suposta sub-orçamentação do orçamento, onde para incluindo os mais de 200 deputados trabalham mais cerca de 700 pessoas.
Num país corroído pela corrupção, pela fraca produtividade, perguntamos do porquê das reformas políticas chorudas, das benesses políticas, dos privilégios da banca privada.
Num país mergulhado em dívidas, questionamo-nos porque será que o governo aumenta os impostos e mantém sem qualquer pudor as "scuts", medida esta que dá voltas ao estômago de qualquer português que pague impostos, que lute pela vida e que tenha um pouco de bom senso.
Num país onde ouvimos tocar a rebate apelando à união e à unificação de esforços, revolta o estômago dos menos sensíveis as cerca de 900 nomeações políticas feitas em três meses por um governo que quer ser o modelo da austeridade.
Num país abafado no descrédito da classe política, obriga-se o vulgar cidadão à reforma aos 65 anos de idade quando dois ministros acumulam reformas douradas com o vencimento actual de ministros, de acordo com notícia veiculada nos "media", em processos legais gerados pela própria classe política que é quem legisla.
Num país amarfanhado na desconfiança, questionamo-nos porque os construtores civis não são fiscalizados pelo fisco, quando todas as pessoas sabem que subvalorizam as vendas dos imóveis que constroem.
Num país abalado pela fuga de impostos, questionamo-nos como é que um governo que quer ser o paladino da transparência não leva avante uma lei que venha a abolir o sigilo bancário.

Diz o povo e com razão que "o povo português é manso", mas há alturas em que o povo tem o direito à revolta.E é revoltante ver um povo a sacrificar-se para que uma classe política decadente, ineficaz e que se auto-regula com leis que lhe permitem fazer o que bem desejam, esteja vitoriosa durante mais de 30 anos no poder,alternando-se e delapidando o país.
Pergunta-se:
até quando?Até Abril de que ano?

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