Durante, não sei, para aí vinte minutos, meia-hora, um tempo esquisito que demorou umas eternidades do diabo, sofremos, sufocados, no nosso meio-campo. A equipa parecia desambiciosa, encolhida, quase amedrontada (se o termo não é excessivo), confiando demasiado na sorte e no coração dos adeptos que, a cada remate dos liverpoolenses, baloiçava e baloiçava, uf!, com razões mais que suficientes. Foi um tempo difícil de unhas roídas, mãos na cabeça e silêncio interior (perdoem-me a falha poética). As bolas batiam, certeiríssimas, contra os nossos postes, ou passavam, redondas, ao largo da nossa baliza, ou então, no exacto momento em que já íamos virar a cara para não ter de ver o golo dos vermelhos lá de Anfield Road, acertavam, por milagre, nas pernas de Moretto e não entravam, não entravam, não entravam. Um tempo de trezentos minutos que, para dar nomes às coisas (e peço desde já desculpa aos editores deste respeitabilíssimo jornal), foi de monumental cagaço.
Cagaço, sim.
Cagufa, miaúfa e tudo o mais que o vocabulário da nervoseira lusitana tenha a acrescentar. Só não tremíamos como varas verdes porque isso só os lagartos… Não, agora a sério. A coisa estava mesmo com mau ar.
Estávamos tão cerimoniosos com os cavalheiros das Inglaterras que a bola parecia já dentro da nossa baliza. Medinho e caldos de galinha…
O que só torna mais magnífico, mais grandioso, mais glorioso, caros amigos, quase dos domínios das transcendências, o que veio a seguir.
É daquelas mesmo para contar aos netos. No meio daquele inferno, Simão olha para a bola com a calma sábia de quem sabe o que vai acontecer. Mas nós somos meros mortais e não acreditamos logo, não percebemos tão rápido.
Ele olha para a bola com o seu melhor estilo telepático e chuta-a sem dúvidas, sem segundos pensamentos. O impensável chuto das antologias históricas. O tipo de coisa que, depois de acontecer, é óbvio que tinha de ser assim, não podia ser de nenhuma outra maneira. O golo clássico, na verdadeira acepção da palavra. A bola passa por cima do guarda-redes espanhol, sem hipóteses, e olé.
"Ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica …"
A partir daí o campo era todo nosso, já estávamos quase a jogar em casa. Eles continuavam a atacar, claro, são profissionais e cumprem o seu trabalho como bons actores - funcionários até ao descer da cortina, mas todos, dentro e fora, percebiam que o essencial tinha acontecido. O que só torna melhor o que veio a seguir.
Já tínhamos calado toda a cidade de Liverpool, a Europa inteira e todos os supostos cientistas da bola, e Micolli ainda teve génio para aquele instantâneo de futebol-arte absolutamente anti-esquecimento.
Um pontapé-moinho que aquilo, sozinho, devia garantir-nos já um lugar na final.
Viva o Benfica, viva o Benfica!!!
9.3.06
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1 comentário:
E viva a Naval, Viva!!!
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