8.8.06

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à
quantidade de "foda-se!" que ela diz.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente
válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que
traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos
sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será
esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de
muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão
matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?

No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais
absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma
credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.
Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de
maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir
surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.
Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial
encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os
olhos e voltas a curtir o CD (...)

Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo
"Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por
sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito
assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e
encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou
livrares-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa
e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando,
passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu
interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?

Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme,
cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado
amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior
poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua
derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma
situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora
complicação?
Expressão, inclusivamente, que uma vez proferida insere o seu autor
num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo
assim como quando estás sem documentos do carro, sem carta de
condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar.
O que dizes? "Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona,
o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e
a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca
qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm
que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar ... tu
pensas "Já me fodi!"

Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
Foda-se!! !
Mas não desespere:
Este país... ainda vai ser "um País do Caralho!"

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